Gatos
domésticos não são ameaça para ecossistemas equilibrados
(Em 09/11/2011)
Investigador
da Universidade de Aveiro faz estudo sobre impacto da espécie no ambiente
natural.
Por
Luísa Marinho
Joaquim
Ferreira, Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro
Os
gatos domésticos (Felis silvestris catus) são vistos, muitas vezes, como
“incontroláveis”, conseguindo adaptar-se e sobreviver em qualquer meio, sendo
mesmo potenciais destruidores de ecossistemas. Um estudo da Universidade de
Aveiro, publicado na «PLoS ONE» vem contrariar essas ideias tidas como certas.
Em
conversa com o «Ciência Hoje», o autor da investigação Joaquim Ferreira, do
Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do Centro de Estudos do
Ambiente e do Mar, explicou que em situações específicas como “ambientes
insulares onde foram introduzidos e onde não existiu co-evolução entre predador
e presa isso pode acontecer (como já aconteceu em ilhas do Pacífico e na
Austrália)”. Noutros ambientes, não.
O
estudo insere-se no trabalho de doutoramento sobre gatos-bravos (Felis silvestris) e quis perceber qual o
impacto da acção humana na conservação deste animal. Estando o gato doméstico
próximo do homem era também importante perceber qual o seu impacto.
“O
gato doméstico
tem uma grande capacidade de adaptação. O que queríamos saber era se consegue
ter ou não sucesso no meio natural, se consegue sobreviver de forma
independente do ser humano e qual o seu impacto no meio”, explica.
Foram
escolhidas 130 herdades em Barrancos, pois esta, diz o investigador, “é uma das
zonas mais bem conservadas do país e tem uma baixa presença humana”.
Depois
do acompanhamento destes animais a equipa de investigadores chegou a várias
conclusões. “Os
gatos domésticos não existem se não houver pessoas. Não vivem independentemente
dos humanos, nem longe das casas”, explica.
Apenas
os machos, e só quando estão com cio, se deslocam a maior distância. “Para
procurarem fêmeas noutras herdades podem fazer grandes deslocações mas são
sempre limitadas. Só se dirigem a outro monte se este ficar a três quilômetros
ou menos de distância”.
E
mesmo nessa dispersão, param nas casas que encontram ao longo do caminho. “Os
deslocamentos são também limitados pela presença de raposas que, apesar de não
os comerem, podem matá-los pois estas vêem-nos como predadores que podem
competir com elas por alimento”. Assim, não se aventuram em áreas mais densas
de mato.
O investigador conclui que “em áreas de ecossistemas bem conservados,
com a presença de populações de carnívoros saudáveis, os gatos domésticos não
são um problema para a preservação do habitat”.
Este estudo ganha importância a nível internacional pois pela
“primeira vez foram avaliados todos os mecanismos pelos quais as populações de
gatos domésticos podem ou não ter sucesso”.
Artigo:
Human-Related Factors Regulate the Spatial Ecology of Domestic Cats in
Sensitive Areas for Conservation
Referência:
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=51738&op=all
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