DIFERENTES
HABITATS BENEFICIAM OCORRÊNCIA DO GATO-BRAVO
NA ESCÓCIA,
DESCOBREM PORTUGUESES
(Em 14 de
Novembro de 2012)
Estudo
pode contribuir para medidas específicas de conservação da espécie
Por
Susana Lage
Gato-bravo
(Crédito: André P. Silva)
O
gato-bravo tem sido, historicamente, considerado como uma espécie
estritamente florestal. Mas, de acordo com André Silva e Luís Miguel
Rosalino, esta é uma espécie que beneficia com uma paisagem composta por
diferentes habitats.
Os
investigadores do Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, têm vindo a colaborar com a Wildlife Conservation
Research Unit (WildCRU) da Universidade de Oxford num estudo sobre os
determinantes ambientais que estão a limitar a ocorrência do gato-bravo na
Escócia, onde a população desta espécie está seriamente ameaçada.
De
acordo com o artigo que recentemente publicaram na revista Diversity and Distributions, a
combinação de diferentes habitats (por ex. manchas de floresta e pradaria)
pode beneficiar ainda mais a ocorrência deste felídeo comparativamente a
manchas de habitats muito grandes e homogêneas.
André Silva
(Crédito: André P. Silva)
“Enquanto a espécie pode utilizar as zonas
florestais como áreas de refúgio e zonas por onde maioritariamente se
movimenta, visitará habitats mais abertos e teoricamente menos adequados como
as pradarias para predar, nomeadamente na sua presa preferencial, o coelho”,
explica André Silva ao Ciência Hoje. Por outro lado, continua, “quando os coelhos não estão presentes na
área a espécie tem a habilidade de se alimentar de pequenos roedores e
insectívoros que estão nas zonas florestais. Desta forma parece-nos que o
alimento é o que mais condiciona a ocorrência desta espécie, pois se existir
uma abundância reduzida de presas a probabilidade da espécie estar presente é
bastante reduzida, mas se estas estiverem presentes tem a habilidade de se
movimentar entre diferentes habitats e até retirar algum benefício da
heterogeneidade da paisagem”.
Segundo
os cientistas portugueses, a população de gato-bravo na Escócia está bastante
ameaçada, principalmente devido à hibridação com o gato-doméstico. Para a
conservação da espécie estão a ser pensadas zonas de proteção onde se possa
diminuir a presença e o impacto do gato-doméstico e onde simultaneamente se
preservem núcleos populacionais importantes para o gato-bravo.
“O que nós assinalamos com este estudo é
que essas áreas em termos ecológicos devem apresentar uma presença simultânea
das presas preferenciais (coelhos e pequenos roedores) e que isto acontece
principalmente em zonas heterogêneas em termos de habitat. Isto permitirá a
espécie sobreviver mesmo quando existem flutuações das populações de presas”,
refere André Silva.
Mais
do que uma descoberta científica, este estudo é algo de útil que pode vir a
contribuir para medidas específicas de conservação. No entanto, sublinha o
investigador, “este é só um primeiro
passo e é preciso fazer muito mais”, como por exemplo estudos a uma
escala local.
Por
outro lado, o trabalho chama a atenção para algo que é muito importante não
só para o Reino Unido mas também para todos os outros países, nomeadamente os
europeus.
Luís Miguel
Rosalino (Crédito: André P. Silva)
“A conservação de predadores e o
delineamento de estratégias eficazes de conservação para estas espécies passa
em muito pela existência de bases de dados robustas da presença e abundância
não só das espécies de predadores mas também das de presas. Este será sempre
um dos primeiros passos para perceber a distribuição de um predador e
curiosamente é uma lacuna frequente em muitos países europeus. Encontrar
dados suficientes de presas para conseguir perceber a importância desta
variável na distribuição do gato-bravo foi uma das grandes dificuldades deste
trabalho”, descreve André Silva.
A
investigação dos portugueses foi levada a cabo dentro de um projeto que está
a ser liderado pela WildCRU e que tem duas vertentes principais, genética e
ecológica. Nesta última está inserido este estudo e “é desejável que nos próximos anos se construam bases de dados
robustas tanto para a presença da espécie como a para a presença das presas”,
avança André Silva. De acordo com o biólogo, “tendo isto será possível delimitar concretamente áreas adequadas para
a proteção da espécie”. Em seguida devem ser identificados os fatores
locais mais importantes a limitar e a favorecer a presença da espécie. “Todo este processo levará algum tempo até
estar completo e isso é um desafio pois é preciso atuar no terreno o mais
depressa possível mas seria ideal ter essa informação antes de avançar”,
sublinha.
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