Fim de um Ciclo
“É a mais triste das tristezas da vida”
(Lenau E. Renouvier)
É com profunda tristeza, neste final de inverno (de 2012), que
comunico que minha gatinha Pitty morreu. Acabei de enterrá-la, curiosamente
no horário da entrada da Primavera, embaixo da mangueira, tendo em vista que
ela adorava ficar em cima desta árvore.
Vim para o PC, porque preciso escrever o que estou sentindo...
É uma dor que somente quem ama os animais, pode avaliar.
Nossa, o que eu estou sentindo...
Vou tentar descrever o que aconteceu...
Bem sabem que a Pitty veio para mim de dentro do motor de um carro
em janeiro deste ano. Tinha, segundo o veterinário, cerca de dois meses. Pois
bem, eu pretendia esteriliza-la em julho, quando soube que ela estava prenha.
Então decidi que ela ia ter os filhotinhos e depois que os bichinhos
desmamassem eu a levaria no veterinário para esterilizar.
Pois é, estou arrasada, porque não sabia que ela era muito
pequena para cruzar e que os órgãos ainda não estavam completamente formados.
E me sinto culpada por isso.
Ela era muito feliz, e pulava para lá e para cá, e brincava
com os outros gatinhos. Mas ocorreu que ontem à noite, de repente, começou a
miar sem parar e eu fiquei sem saber o que fazer, daí ela entrou no meu
quarto e começou a arranhar o guarda-roupa, então eu abri e ela se meteu lá
dentro. Então pensei, acho que está em trabalho de parto, enfim, depois eu
lavo tudo e deixei-a quieta.
A noite inteira eu ia olhar, e, nada acontecia. Então meu
marido resolveu leva-la no veterinário pela manhã. Enquanto isso, eu alisava
a barriguinha dela e dizia o quanto a amava. De repente, ela pulou do
guarda-roupa e foi para o corredor deitar-se no chão, e, vi um gatinho
nascendo ao contrário, ou seja, saiu a bundinha do bichinho, ao invés da
cabecinha. E ela fazia força e o bichinho não saía. Eu fiquei super nervosa,
e falei para o meu marido ir ligando o carro (que é a álcool) e ir abrindo o
portão. Nisso coloquei uma luva e tentei puxar com muito cuidado, e ela
gritava. Nossa! Não imaginam os momentos difíceis que eu passei. Meu marido
veio, viu e colocou uma luva para tentar puxar o bichinho, e conseguiu, para
alívio da Pitty. A placenta saiu junto, mas o bichinho estava morto. Eu
imaginava isso, tendo em vista que ele estava virado. E falei que eu achava
que os demais também estavam virados. Enfim, dei um beijo nela e mais uma vez
falei o quanto eu a amava e ela me olhou de um jeito que nunca vou
esquecer... e meu marido a colocou na casinha de gatinhos e saiu a toda.
Minutos se passaram, que mais pareciam horas. Meu marido me ligou e disse:
Todos os filhotes estão mortos (constatados pelo veterinário) e ele vai fazer
uma cesariana para tirá-los. Então eu disse: Eu não quero que ela sofra. Meu
marido me disse que ela já havia sido sedada e estava dormindo.
Daí, eu não conseguia dormir, diante de um fato desses e
coloquei uma música clássica e fiquei andando para lá e pra cá. De repente,
meu marido chega e pela cara dele eu pude saber o que havia acontecido. Senti
uma pontada no peito. E ele entrou com ela nos braços embrulhadinha numa
toalha, e disse: “Ela teve uma
hemorragia intensa e não aguentou. Tinha que ver como ela me olhou feliz”.
Ficamos ali com ela nos braços, os dois, em silêncio absoluto,
por longo tempo.
Aquela gatinha, como todos os outros gatinhos que tenho são
como meus filhos. Quem ama os bichos entende o que estou dizendo. E agora,
estava ali morta...
Entendo que nada na vida é por acaso, portanto, que a minha
Pitty, apesar de ter trazido tanta alegria e felicidade para a nossa casa,
tinha cumprido seu propósito, que não tenho a menor idéia de qual teria sido,
mas que certamente foi muito bem realizado.
Mas, ainda assim, não consigo conter minhas lágrimas. E volto
a questionar o insondável. Ainda que saiba que um Ascendente em Escorpião,
como é o meu caso, tem que se acostumar a lidar com perdas, e, como a fênix,
renascer das cinzas.
Pelo menos sei que ela foi muito feliz aqui conosco. Foi muito
bem tratada, teve muito carinho, cuidados e manutenção. Brincou muito e viveu
o pouco tempo de vida com muita alegria
A morte é indiscutivelmente o maior problema a ser enfrentado
nesta vida, “perdas” machucam a fundo. Embora reflito numa frase de Pascal
e/ou La Rochefoucauld (século XVII),
que diz: “Nem a morte, nem o Sol podem
ser olhados de frente”. E que infelizmente não podemos evitar. Segundo, o
filósofo alemão Martin Heidegger,...
“o homem (os bichinhos também) é
o “ser-para-a-morte”: “Zum-Tode-sein”. Isto significaria que
entre as diversas possibilidades do homem há uma que representa “a
possibilidade da impossibilidade”, ou seja, quando esta ocorre, todas as
demais possibilidades ficam excluídas.”
A "existência" é uma suspensão temporária entre o
nascimento e a morte. O projeto de vida do homem tem origem no seu passado
(em suas experiências) e continuam para o futuro, o qual o homem não pode
controlar e onde esse projeto será sempre incompleto, limitado pela morte que
não pode evitar.
A angústia funciona
para revelar o ser autêntico, e a liberdade (Frei-sein) como uma
potencialidade. Ela enseja o homem a escolher a si mesmo e governar a si
mesmo.
Na angústia, a relevância do tempo, da finitude da existência
humana
(como a de outros reinos da natureza também), é experimentada então como uma liberdade para
encontrar-se com sua própria morte (das Freisein für den Tod), um
"estar preparado para" e um contínuo "estar relacionado
com" sua própria morte (Sein zum Tode). Na angústia, todas as
coisas, todas as entidades (Seiendes) em que o homem estava mergulhado
se afastam, afundando em um "nada e em nenhum lugar," e o homem
então em meio às coisas paira isolado, e em nenhuma parte se acha em casa
(Un-heimlichkeit, Un-zu-hause). Enfrenta o vazio, a "nenhum-coisa-idade"
(das Nichts); e toda a "rotinidade" desaparece -- e isto é
bom, uma vez que então encontra a potencialidade de ser de modo autêntico.
Assim, a angustia "sóbria" (nüchtern) e a
confrontação implicada com morte são para Heidegger primeiramente
ferramentas, têm importância metodológica: certos fundamentos são revelados.
A ansiedade abre o homem para o ser.
Entre as estruturas reveladas estão as potencialidades do
homem para ser alegremente ativo (".. conhecer a alegria [die
wissende Heiterkeit] é uma porta para o eterno"). Isto não quer
dizer que o Ser participa do lado negro do desespero, da angústia; o Ser é
associado com a " luz " e com " a alegria " (das
Heitere). Pensar o ser é chegar ao verdadeiro lar.
Por isso, dos três existenciais, Heidegger privilegia o
futuro, porque é esta projeção para o advir e o golpe da devolução no embate
com a morte que lá está que o leva a pensar e à autoconscientização.
O homem pode então introduzir esse conhecimento existencial no
projeto de sua vida, e assim se apropriar da existência fazendo-a
efetivamente sua, tornando-se autêntico, não mais um ente sem raízes. Para essa
visão existencial do homem, em que ele se conscientiza das estruturas
existenciais a que está condicionado e que o tira da superficialidade em que
desenvolve seus conflitos tornou-se sedutora para a psiquiatria, surgindo ai
proeminentes terapeutas existencialistas como Binswanger, Boss e Ronald
Laing.
Não vou enviar mensagens neste final de semana, talvez nem nos
próximos, preciso de um tempo. Preciso preencher esta sensação de vazio
interior que um evento triste como esse me causa.
Estranhamente, meu outros gatinhos estão ao meu redor, como
que me consolando. Enfim...
Feliz Novo Começo
para todos vocês.
Martha Cibelli
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário